A Padaria


A Padaria




Como mencionei anteriormente, Jucutuquara era um bairro classe média e funcionava como uma mini cidade, com duas padarias, armazéns, cinema, barres, escola primaria e escola Técnica, estádio de Futebol do Rio Branco, pensões e até mesmo uma Boate, o Bar Rock. Todos se conheciam, tais como seu Orestes do armazém, seu Rui da barbearia, Reginaldo da quitanda que também fazia jogo do bicho, seu Vitalino da empresa de ônibus, Dr. Inácio da farmácia, o China da lavanderia, o Deputado Antônio, seu Gentil delegado, Alcibíades enfermeiro da farmácia, Dr. Leão que tinha o consultório em casa e mesmo o padre Barros. Por isto mesmo qualquer fato novo era imediatamente conhecido por todos e daí as fofocas e mexericos. A padaria do Jajá disputava a freguesia com a do seu Armando. As preferencias eram muito fortes e a disputa grande, mesmo em época que os pães eram produzidos na mesma unidade e pelos mesmos padeiros. Isto ocorria em época de manutenções e reformas onde os proprietários, amigos, produziam juntos sem que a freguesia soubesse. Aos domingos as padarias abriam até ao meio dia o que inviabilizava o descanso dos proprietários. Daí seu Jajá propôs que a abertura aos domingos fosse feita de forma alternada em revezamento. A clientela não aprovou muito a ideia, mas Jajá foi mais além: fechamento aos domingos. Seu Armando não gostou muito da ideia, mas tentaram e na primeira semana tiveram certeza que a estratégia era mesmo um sucesso. As vendas nos sábados eram superiores às do sábado e domingo normais. A explicação era óbvia: com receio de ficar sem pão no domingo, os fregueses compravam maior quantidade além de bolos presuntos e outras guloseimas. 

Um tempo depois, seu Armando já mais velho, decidiu vender a padaria, já que os seus filhos não quiseram tocar o negócio.    O mesmo foi acontecer com Jajá, anos mais tarde. Explica-se: o negócio é muito bom mas dá muito trabalho e muito aborrecimento. Daí, para não entrar um novo concorrente seu Jajá decidiu comprar o negócio. Mas o fez de maneira discreta para não caracterizar um monopólio o que poderia trazer algumas reclamações. Pediu ao Davi, do Bar do Caranguejo, vizinho da padaria para propor a compra. Negócio fechado, padarias funcionando, mas a produção num mesmo lugar: a padaria do Jajá, que tinha um time campeão: Liberalino, Barreire (motorista), Filhote o bom de cana, Tião Preto, Manda Brasa, Hildete (caixa) e Waldemar o gerente. Cada um com suas histórias: O Tião Preto, forneiro, certa feita deixou queimar a fornada, já que parou para ouvir Roberto Carlos cantando ao vivo, no chuveiro da casa de seu tio, que ficava nos fundos da padaria. O Roberto tinha ido visita-lo em uma de suas apresentações em Vitoria. O Barreire, motorista, ficava bravo com as estripulias que Paulo e Jacques aprontavam com a Kombi da padaria.  Os bons empregados e com mais tempo de casa, eram agraciados com moradia cedida pelo patrão Jajá. Com muitas faltas de seus empregados que moravam longe, seu Jajá adquiriu terrenos de posse nos morros próximos a padaria e construiu barracos de madeira com sala, quarto, cozinha e banheiro e cedia para os melhores empregados. Desta forma ele tinha a garantia deles no serviço, mesmo que alguém pudesse chama-los em suas casas. No final, quando Jajá vendeu o negócio e partiu para o Rio de Janeiro ele cedeu, em cartório a posse dos três ou quadro barracos para os empregados. Um quase Nossa casa nossa Vida de hoje. Mesmo o gerente, também morava num dos apartamentos do prédio da padaria por conveniência de todos.  Muito honesto e trabalhador, vez por outra era enganado: certa vez trocou pedras por dinheiro. Como padaria tem que ter muito trocado e moedas, o local mais certo para encontra-los era na sorveteria do bairro. No final da tarde as carrocinhas retornavam com muito trocado. A sorveteria separa e mandava para o Seu Jajá que trocava por dinheiro em notas maiores. Quaisquer diferenças eram compensadas nas futuras transações. Percebendo isto, um malandro mandou um garoto fazer a troca. No final do dia, já em preparo para o próximo, seu Jajá perguntou ao gerente se ele tinha conseguido trocado para o caixa. Ele todo eufórico falou que tinha conseguido um montante para a semana toda. Mas ao desembrulhar o pacote percebeu que tudo era pedra britada. Desiludido, ficou furioso pois seu Jajá não parava de rir com a história.   Noutra feita, o Roberto já cursando economia, implantou um controle do caixa, que era muito precário. Todos os cinco da família, passavam no caixa e pegavam dinheiro para as mais diversas coisas, como gasolina, supermercado, feira, mesada dos filhos, cabeleireiro de D. Ceição e etc. O gerente ficava louco, quando ia fazer a féria (caixa) do dia. Por esquecimento por falta de anotações o caixa nunca fechava. Mão não eram valores relevantes e seu Jajá queria mesmo saber o que sobrava. As sobras eram depositadas diariamente numa conta de Poupança que não parava de crescer. Com o novo sistema, cada retirada deveria ser registrada na máquina registradora assinadas e anotadas o destino do valor: gasolina, etc. Mas o primeiro problema ocorreu com D. Ceição, a ser indagada para que era a retirada ela de pronto respondia: não lhe devo satisfação. Eles tinham esta liberdade por que eram amigos de infância. Agora o problema era o gerente fechar o caixa a noite, junto com seu Jajá. Ele não entendia como seu Jajá ficava satisfeito com o fechamento do caixa. Por exemplo: as vendas indicavam pelos registros $ 1200. As retiradas totalizavam $100 e o montante em dinheiro era de $1000. Na conta dele se o total era $1200 e as retiradas $100, deveria ter em caixa $1100. Mas ele não entendeu que como as retiradas eram registradas, constavam duas vezes. Acho que ele nunca entendeu. Boa gente. Soube que faleceu em 2018 em Vitoria.

Outra fato engraçado foi o da Missa. A padaria ficava em frente a Igreja de São Sebastião, padroeiro do Bairro. Como o leite era vendido em carrocinhas vindas diretamente dos Laticínios não embalados como hoje, seu Jajá para aumentar as vendas pediu para o leite fossem vendidos em frente a padaria. O anuncio da chegada do leite era por uma buzina que fazia: Fon., Fon. Aos domingos na missa das oito, o padre Barros, fazia seu sermão que era amplificado para todo o bairro pelos autofalantes. Então ele falava: dizia Jesus na Galileia, e a buzina soava: Fon, Fon. e mais: Pedro falou com Jesus e Fon, Fon. O padre fincava irritado e certa vez desceu do altar e foi para rua, paramentado e tudo para dar uma bronca no vendedor de leite. Então ficou combinado, durante a missa não tem Fon Fon. Tudo intermediado pelo seu Jajá que queria mesmo é que as vendas do leite aumentassem também as suas de pão.

Outro causo muito legal ocorreu com o senhorio do Jajá. O proprietário do prédio da padaria era seu amigo. Ele era separado, bem de vida como corretor de câmbio. Certa feita, num final de tarde de sexta feira, ele chama o Jajá pela janela do apartamento divididos por uma área de ventilação.   Pediu que Jajá guardasse um pacote, embrulhado em jornais, que arremeteu pela janela, dizendo para guardá-lo porque estava em companhia de suas namoradas e o fim de semana ia ser agitado. No fim de semana, enquanto retornava de um balneário próximo, no seu carro conversível, deparou-se com uma lagoa e num gesto brusco, virou o volante que o fez virar para o outro lado da pista, caindo num barranco. O acidente quebrou-lhe a perna e um braço. Jajá ficou sabendo e logo na segunda feira foi visita-lo. Ele estava bem, mas preocupado com os compromissos para a semana. Pediu ajuda ao Jajá dizendo que ele poderia desde já fazer um adiantamento da compra do prédio, que algum dia seria concretizado, embora ele nunca quisesse vender.  Disse então Jajá: Promessa é dívida. O que o acidentado concordou. Complementou dizendo que ele tinha uma surpresa: o pacote contendo dólares que ele repassou na sexta e não lembrava. Ficou muito grato e mais tarde cumpriu a promessa de venda. 


Temos o causo da telefonista. Telefone nesta época era muito caro. |A lista de espera chegava a cinco anos. Era até declarado no Imposto de Renda como bem. Por isto mesmo o telefone de casa era uma extensão do da Padaria. Quando a ligação era familiar bastava tocar várias vezes o botão de desligar que em casa atendiam. A maioria das legações eram de negócios. Dona Conceição não perdia a oportunidade de ficar estutando algumas conversas, principalmente do Jajá, na busca de algo comprometedor. Mas Jajá era esperto, só negócios. Muitas ligações para casa eram trotes, já que ainda não existia o Bina. Alguns telefonemas foram incríveis. Num trote que a D. Ceição atendeu, o interlocutor perguntou: Penico de barro dá ferrugem, no que ela respondeu de pronto: depende da bunda. A sua vai dar até lodo. Noutra feita a ligação era do mecânico do seu Jajá que ligou para avisar que o carro estava pronto. Como eles eram amigos e brincalhões falou ele ao telefone. O meu Jairzinho, gostoso, pode me atender. E ela: Jair, tem um veado querendo falar com você. O cara ouviu e falou: Jairr, fala para sua mulher que eu não sou bicha não. Sou casado e tenho um casal de filhos. Mas a que acho mais engraçada, foi de um amigo dele que ligou procurando-o. Dona Ceição respondeu que ele tinha ido ao Banco para resolver negócios. Daí ele falou: conversa, daqui do escritório, posso vê-lo entrar no cinema Juparanã com uma loira linda e muito atraente. No que ela retrucou. É a sua mulher. Todo mundo sabe que ela e Jair tem um caso. A mulher do cara era loira e conhecida da dona Ceição.  O cara retrucou: é só uma brincadeira Conceição. Mas ela não se conteve e respondeu. Eu não estou brincando. É melhor você averiguar. Daí as brincadeiras acabaram.
Duas boas do seu Jajá. Uma vez por ano os donos de padaria do Brasil inteiro se reuniam numa cidade para o Congresso anual, apara trocarem ideais e conhecer novas técnicas de fabricação e negócios, normalmente bancados pela Fleischman/Royal, os grandes moinhos e os fabricantes de máquinas e equipamentos. Neste evento, em Recife, Pernambuco, na turma de Vitória, alguns levaram as esposas. Mas D. Ceição foi irredutível dizendo: não vou ficar disputando com as outras “perruas”, esposas dos outros colegas, em vestidos, compras e maquiagens. Restou ao seu Jajá viajar sozinho. Como a maioria viajou sem as mulheres, a turma aprontou muito na cidade por uma semana. No retorno, seu Jajá com chato (piolho da púbis). Dona Ceição ficou brava. Ele argumentou que pegou no avião. Ele esbravejou e mandou ele tomar banho, usar Neocide, um pesticida conhecido. Pediu para ficar longe dos garotos e toma banho na padaria junto com os empregados. O tempo fechou, mas logo, logo, as coisas voltaram ao normal.

A outra boa e da mulata gostosa. Já com os filhos casados e netos, ele continuava um paquerador disfarçado. Nesta época. O Jacques já morava no Rio de Janeiro. Eventualmente viajava a serviço. Numa destas, para Vitória, ela levou a sua mulher Fátima direto do aeroporto de Vitoria, ele foi direto para uma reunião no centro da cidade. No trajeto, ele deixou a Fátima na Padaria do Jajá; ela entrou e fragou seu Jajá. Uma mulata esguia, bonitona, de short, estava pegando um sorvete no Frízer horizontal. Para pegar o sorvete ela teve que abaixar deixando as pernas e coxas bem a mostra. Seu Jajá não aquentou e deu um beliscão na coxa da mulata. E ela: seu Jair. Quando ele percebeu a presença da Fátima ele não sabia o que fazer. Ela subiu para o apartamento e ele junto. Dona Ceição brigou dizendo: odeixe eu conversar com minha nora. Não tem nada que fazer na padaria? Daí ele disse: estou procurando um talão de cheques. E a procura demorou até o Jacques voltar.

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