Próxima parada - Vitoria

Próxima parada – Vitoria – ES 


Vidinha passando, usufruindo dos ganhos obtidos com o contrato de fornecimento de pães para a construtora da Usina Hidroelétrica de Rio Bonito. Comprou o primeiro carro, uma caminhonete Studebaker usada. Aprendendo a dirigir com o Darly, o faz tudo da padaria e da casa. Meninos crescendo. Agora três filhos: Roberto, Paulo e o Jacques, já que a menina esperada não veio. Compraram uma Electrola, era assim mesmo a grafia, sonho de consumo das famílias Leopoldinenses. Noites de fins de semana em casa na casa dos amigos ou no Clube, comerciantes locais, juiz, promotor, médico da cidade, delegado, o padre. Enfim a sociedade local, reuniam-se para ouvir músicas, discutir política e futebol, enquanto as madames fofocavam as novidades da cidade e de seus habitantes. A construção da Usina estava terminando e já se avistava a montagem das torres de transmissão em direção a Vitoria o centro consumidor de energia. Num bate papo com o médico e fazendeiro da cidade, Dr. Almeida, aconselhou o Jair a descer junto com os fios. Ou seja, mudar-se para Vitoria, assim que acabasse as obras, uma vez que depois a coisa tenderia a voltar a velha rotina de cidade pequena. Embora Jair entendesse, para ele não fazia sentido uma mudança brusca de vida, para a Capital, deixando amigos o negócio e o próprio emprego de funcionário público no Cartório. A conversa ficou por ali. Mas o destino está alerta. Com o término do curso primário do Roberto, o filho mais velho, havia necessidade de matricula-lo no curso ginasial, disponível só na Capital, Vitoria. Esta rotina era comum para maioria dos jovenzinhos da cidade. O próprio Jair, quando novo, fez o mesmo, ficando em pensões familiares, onde os pequenos hospedes eram tratados como verdadeiros filhos. Era novembro e já se iniciava o curso de admissão ao Ginásio. Jair e o Roberto, partiram para a capital e ficaram hospedados numa pensão no centro da cidade. Por sinal a mesma que o Jair esteve quando mais jovem. Os proprietários eram os mesmos, embora mais velhos. Os receberam com muito carinho. Enquanto ocorriam as provas, o Jair aproveitou para mostrar ao filho as novidades de uma cidade grande. Pegou o primeiro Bonde (Veiculo Elétrico sobre Trilhos), na Praça Costa Pereira onde os mesmos contornavam a praça e seguiam novamente em nova viagem, com destinos: Praia do Canto, bairro de Classe Alta. Jucutuquara bairro classe média com muitos funcionários públicos e Santo Antônio, um bairro de classe média baixa onde moravam operários e funcionários do porto de Vitoria. O Bonde da vez era para Jucutuquara. Um trajeto pequeno, cerca de 4 Km, com uma vista muito bonita do Alto do Morro do Clube Saldanha da Gama para a Pedra do Penedo e o Porto da Cidade. A última parada antes do final da linha, para retorno, era em frente à Igreja de São Sebastião. Desceram, e enquanto aguardavam o retorno do Bonde, coisa de 20 minutos, entraram na Igreja e oraram pedindo benção e proteção. Ao sair viram que em frente tinha ama padaria que começava a fechar. Atravessaram a rua e foram comer qualquer coisa. Como Jair sempre foi bom de papo, começou a conversar com o proprietário, dizendo também que era do ramo. Conversa vai, conversa vem, o proprietário informou que estava vendendo o negócio, já que pretendia abrir outra padaria, num Bairro novo próximo, o Bairro de Lurdes, onde o crescimento era visível. Por curiosidade Jair perguntou o valor do negócio. Surpreso, ele percebeu que tinha juntado bastante com o negócio da construção da Usina e que o valor poupado era mais que suficiente e com folga para a concretização do negócio. Perderam o Bonde, já que o papo era interminável, mas tiveram que embarcar no último das 22 horas, não sem antes marcar um novo encontro. No dia seguinte, enquanto o filho prestava provas, ele pediu uma ligação telefônica para Santa Leopoldina. A espera era uma eternidade, já que a telefonista avisava ao Posto Telefônico da cidade e um mensageiro avisa ao interessado. Chegando ao Posto a telefonista local ligava em retorno e a ligação era transferida para o solicitante. Mas por fim, ele ouviu a voz da Conceição do outro lado da linha e contou a novidade. Ela topou na hora. Negócio fechado, começou a correria, já que tinham que providenciar a mudança, resolver os problemas da Padaria e do Cartório, com o agravante que as aulas começariam logo no início de fevereiro no ano seguinte. A vantagem do negócio era que além da padaria, o sobrado tinha dois apartamentos de 3 quartos e terraço, que servia de moradia do proprietário da padaria e o outro, independente, dava para a rua dos fundos; Rua Velha. Antes do Natal a mudança já estava no novo endereço. Paulo e o Jacques, para não atrapalhar a mudança, ficaram na casa da "Tité", tia Ester, irmã do Jair e casada com Otto Teubner. Quando chegaram, os filhos ficaram deslumbrados, com o sobradão, o terraço, o vai e vem dos Bonds e os aviões que passavam rente ao Bairro e o cinema Trianon, com o seu Ciro como Gerente. Mas a grande novidade eram as praias do Canto, Barracão, Santa Helena e Santa Lucia, acessíveis pelo Bond ou de Bicicleta.  Matricularam o Paulo no Grupo Escolar Padre Anchieta, aos cuidados de Dona Adelaide, Diretora. O mais novo, Jacques, que estava matriculado na Casa da Criança em Santa Leopoldina, ficou aguardando idade para também ser matriculado.  A Padaria em Santa Leopoldina ficou por conta do Gerente Murilo, mas com o controle do Jair que ia semanalmente para trabalhar no Cartório. Com o tempo, a Padaria e a Casa foram vendidas e o Jair pediu licença sem vencimentos no Cartório, prerrogativa dos Funcionário Públicos. A família percebeu que o Bairro de uma Cidade Grande, nada mais é do que uma pequena cidade do interior.  Jucutuquara, era um dos bairros de Vitória mais bem servidos: Mercado Municipal, Grupo Escolar, Escola Técnica, Delegacia, Cinema, Estádio de Futebol do Rio Branco, Museu Monjardim, comercio variado, pensões  e transportes. E também com problemas: uma vala infecta, onde eram despejados os esgotos das residências, que seguia em linha reta até o mar.  Pouco depois a vala foi coberta e o problema se tornou pior. Nas chuvas fortes de verão o bairro era inundado, fazendo seu Jair elevar o piso da Padaria.  E a vida foi seguindo com os percalços que uma mudança radical pode provocar, mas com novos amigos e novos afazeres.

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