Os “causos”
Os Causos
Metade verdade metade mentira
Houve um crime numa fazenda próxima a Santa Leopoldina. O Juiz local solicitou a presença das testemunhas, muitas delas descendentes de alemães que ainda não falavam o português corretamente. O Juiz despachava no Cartório local como e de praxe nas pequenas cidades do interior. Seu Jajá estava a postos como escrivão. Disse então o Juiz: O sr. Bernard Kall, jura dizer a verdade e somente a verdade neste depoimento. No que Bernard respondeu: Bernard conta metade verdade e metade mentira. O Juiz esbravejou e pediu a imediata prisão de depoente. Jajá interveio e disse: Doutor, o senhor não entendeu. Ele está dizendo que o que ele sabe. ele vai falar, o que não sabe, não. Esclarecidos os fatos o depoimento continuou.
Meieiro
A filha do Juiz ia casar. A família convidou toda a sociedade local: políticos, fazendeiros, comerciantes, amigos, o delegado e o Padre. Espertamente ele mandou entregar pessoalmente os convites. Para isto pediu ajuda a uma figura conhecida na cidade de apelido Chico Doido. Era o homem para qualquer tarefa. Partiu o Chico e um auxiliar, com quatro mulas arreadas, com os convites e uma lista de pedidos de doação para a festa: seis (6 ) perus, quatro (4) leitões, dois (2) cabritos, dez (10) galinhas.
No fim de semana, chega o Chico na porta do Juiz para fazer a entrega:
No fim de semana, chega o Chico na porta do Juiz para fazer a entrega:
três (3) perus, dois (2) leitões, um (1) cabrito e cinco (5) galinhas. O Juiz reclamou que a encomenda estava pela metade. Disse então o Chico Doido: Doutor, eu só trabalho a meia.
O Sacristão
O Padre local, vivia de doações em dinheiro e de mantimentos oferecidos pelos paroquianos. Num domingo, o sacristão chegou atrasado e foram direto para a celebração da Missa e o padre estava querendo saber das doações. Como estava no meio da Missa, disse o padre concentrado no linguajar da Igreja: Fostes e viestes o que trouxestes ?
Responde o sacristão: Dois "Bebebés" e um "Shuichuim". E todos responderam : Amém.
O que queria dizer que as doações foram de dois cabritos e dois porcos. E assim a Missa prosseguiu.
A Hospedagem
Era comum as viagens do Tabelião e do Escrevente, fazerem pequenas viagens pelo interior do município, para lavrar escrituras, testamentos, nascimentos e casamentos.
Eles normalmente viajavam e trabalhavam nas fazendas locais, onde pernoitavam a pedido dos proprietários que ofereciam também boas comida e bebidas
Numa dessas viagens pernoitaram na casa de um alemão. Depois do banho, foi oferecido um jantar delicioso, com vinhos e cervejas produzidos por eles. Depois de uma prosa, um cafezinho feito na hora e um cigarrinho de palha, e depois foram se recolher.
Um quarto muito arrumado e com travesseiros de penas de ganso, super confortáveis.
Seu Jaja maneirou na comida, ja que desde cedo tinha problemas estomacais. Mas seu parceiro Arsemino, passou dos limites. Não deu outra: por volta da meia noite, uma tremenda dor de barriga. Ocorre que o banheiro nestas propriedades é no fundo do quintal da casa. Para não acordar os donos da casa eles abriram a janela e com uma lanterna viram o banheiro no fundo do terreno. Arsemino pulou da janela, quando o fez percebeu que os seus pés afundaram até o joelho. Ele então pediu ao Jajá que iluminasse o local. Daí ele descobriu que caiu em cima de um cova nova de cemitério. É que o costume local destes imigrantes é fazer o cemitério no fundo do terreno, como faziam as paróquias locais. Com um pulo só, ele retornou ao quarto e a dor de barriga passou na hora. Partiram cedo pela manhã.
O Cavalo e o Cemitério
Seu Jajá ia mensalmente a Vitoria, a capital, para fazer compras de trigo e outros produtos para a Padaria. Não era longe, cerca de 50 quilômetros. Mas na época, o percurso tinha que ser um trecho maior feito a cavalo, até a cidade de Cariacica, e dai um transporte até Vitoria. Ele saia bem cedo e retornava quase a noite. Mas como era bom de prosa, neste dia, depois das compras e encomendas, ele papeava com amigos e se esqueceu das horas. Pegou a última condução par Cariacica e de lá, pegou o cavalo e seguiu para casa. No percurso o cavalo empacou, por causa de barulhos estranhos, como rangidos. Ele parou, desceu do cavalo, viu as horas, meia noite, o luar era claro e pode perceber que estavam em frente a um cemitério. Os rangidos continuaram. Ele atravessou toda a estrada em frente ao cemitério, a pé, levando o.cavalo apressadamente. Assim que passou, com o cabelo todo arrepiado, ele montou no cavalo e foi em disparada para casa. No outro dia, voltou logo cedo, com um amigo. Ele percebeu então, que o rangido era provocado pelas coroas de flores feitas com latas, pratica comum dos imigrantes, que com o vento da madrugada produziam os estranhos barulhos.
A Visão
Ainda solteiro, morava num quarto em cima do Cartório, cujo acesso era por uma escada enorme desde a rua. Foi se recolher cedo, pois o dia do Cartório e os negócios da Padaria o deixaram cansado. Por volta da meia noite, sempre meia noite, aparece um senhor todo de branco ao lado da cama dele. Ele levantou assustado e viu a figura descer apressadamente a escada. Ele pensou ter deixado destrancada a porta de entrada. Desceu para conferir e verificou que estava trancada. Subiu num pulo só, pegou o colchão e foi dormir na padaria onde os empregados já trabalhavam para a fornada da manhã seguinte. No outro dia, quando saia do Cartório para almoçar, recebeu um telegrama que o seu futuro sogro, pai de sua namorada Conceição, que ele não chegou a conhecer, tinha falecido.
O enterro do compadre e o dinheiro
Nesta época, século XX, as transações financeiras eram realizadas em dinheiro vivo. Por isto mesmo, as pessoas sacavam quantias razoáveis para viagens e negócios. Nesta feita, o amigo e compadre, tinha decidido viajar e sacou na casa bancaria da Cidade, uma boa quantia para fazer face as suas necessidades e compras. Na véspera da viagem , o compadre veio a falecer. Após o velório e o enterro, a família veio a saber do valor expressivo sacado no Banco. Saíram a procurar pela casa, no cofre da família, armários e nada. Então seu Jajá, conhecendo o amigo, lembrou que ele costumava guardar dinheiro no bolso interno do paletó, quando viajava, para se proteger de possíveis ladroes. Não deu outra. O problema é que já se passavam três dias, Foi feita a exumação e o dinheiro encontrado.
Numa das visitas do Jajá a Fazenda da Fumaça, que ele costumava fazer vez
ou outra, encontrou um dos sobrinhos que lá morava e cuidava da propriedade.
Depois de uma cavalgada para rever a cachoeira, o rio e as plantações, foram
almoçar uma deliciosa galinha a molho pardo, regado a um bom vinho. Depois da
sobremesa e o café moído na hora, ficaram a papear lembrando dos bons tempos. O
sobrinho lembrou então das dificuldades quando todos eram pequenos até para a
alimentação. O irmão mais velho do Jajá, Aminthas teve que deixar o curso de
Direito na Universidade do Brasil no Rio de Janeiro, por causa da crise do
café, provocada pelo “Crash” da Bolsa de Nova York em 1929. Ele teve que
retornar a Fazenda, já que o pai, estava doente e a irmã, Ester, havia se
casado. Ele assumiu a Fazenda e logo se cansou com Lucy, sua noiva. Tiveram vinte e um filhos. Certa vez perguntei
a tia como ela controlava todos os filhos e ela me disse que ao se recolher a
noite, simplesmente contava a turma. Nestas lembranças, que vocês verão no
vídeo abaixo, ele lembrava, que a mãe, fazia para o almoço, umas das galinhas
da criação. Como os mais velhos já estavam trabalhando, tinham preferência
pelos melhores pedaços. Os mais novos ficavam com o resto. Jajá então
perguntou; E dava para todos os vinte um, o casal e empregados? Ele dizia que
as vezes até sobrava. Veja o Video no "Link" abaixo:
https://photos.app.goo.gl/mbCKeToet4f2SJnQ8
O enterro do compadre e o dinheiro
Nesta época, século XX, as transações financeiras eram realizadas em dinheiro vivo. Por isto mesmo, as pessoas sacavam quantias razoáveis para viagens e negócios. Nesta feita, o amigo e compadre, tinha decidido viajar e sacou na casa bancaria da Cidade, uma boa quantia para fazer face as suas necessidades e compras. Na véspera da viagem , o compadre veio a falecer. Após o velório e o enterro, a família veio a saber do valor expressivo sacado no Banco. Saíram a procurar pela casa, no cofre da família, armários e nada. Então seu Jajá, conhecendo o amigo, lembrou que ele costumava guardar dinheiro no bolso interno do paletó, quando viajava, para se proteger de possíveis ladroes. Não deu outra. O problema é que já se passavam três dias, Foi feita a exumação e o dinheiro encontrado.
O sobrinho
https://photos.app.goo.gl/mbCKeToet4f2SJnQ8
Espelho do Mintas
O Amintas era
o irmão mais velho do Jajá, com uma diferença de doze anos, seguido sua irmã,
Esther com dez anos. Ele era o filho temporão, e por isto mesmo muito mimado. O
Amintas, já rapaz e metido a conquistador, nos fins de semana, se arrumava
todo, vestindo ternos de linho, e partia para os bailes no Clube, em busca de
garotas. Certa feita, durante o banho demorado, regado a perfume e sabonetes aromáticos,
o Jajá com dez anos se escondeu dentro do armário, para dar um susto no irmão. Amintas
já deixara o terno, a gravata, a camisa social, meias e sapatos na cama, para
vestir quando acabasse sai do banho. Ele
tinha a mania de parar em frente ao espelho para pentear-se e perguntava se
tinha algum rapaz mais bonito que ele. Nesta
feita de dentro o armário, Jajá respondeu: Tem eu. O Mintas ficou tão assustado
que desmaiou. Jajá correu e chamou a irmã que jogou água fria no seu rosto e
ele logo recobrou os sentidos perguntado aonde ele estava. Todos riram, mas ele
deu uma bronca no Jajá.
Carnaval no Clube
Jajá, conhecido
na cidade, principalmente pelo cartório e pela padaria, era sócio do Clube
Local. Em pouco tempo já era membro do Conselho Consultivo. A cada dois anos.
Logo no início de janeiro era eleito o novo presidente e desta feita foi eleito
o Jajá. Com a programação do Carnaval que seria realizado logo no mês seguinte,
ele planejou, junto com os demais conselheiros, uma festa modesta, mesmo
porque, em final de mandato o caixa era baixo. Ocorre que Jajá, hospedava em
sua casa, o seu cunhado Valter, casado com a irmã da sua mulher Conceição,
carioca, boêmio, boa praça e conhecedor de montagem de eventos. Viu no Carnaval
uma oportunidade de ganhar um bom dinheiro. Ofereceu para cuidar do bar do
Clube, que receberia um percentual soabre as vendas, tendo ele a responsabilidade
de suprir o bar bem como atender aos clientes. Jajá não achou muito boa a
ideia, preocupado com o possível encalhe das bebidas. Mas como não oferecia
risco para o Clube, concordou. O Valter, ligou para seus amigos o Rio de
Janeiro, para providenciar o envio das bebidas; Vinhos finos, conhaques, Whisky
Escocês, Champanhes Francesas, sabe-se lá de que procedência. O envio foi feito
pelo trem da Leopoldina. No dia previsto, ele e Jajá foram de caminhonete a
Vitoria, buscar a encomenda e aproveitaram para comprar refrigerantes e agua
mineral para a festa. O Carnaval começou já no sábado pela manhã, com alguns
blocos vestidos de mulher e bichos para assustar as crianças e alegrar os
adultos. Já a noite, o primeiro dia da festa. Todos vestidos de palhaços,
colombinas, pierrôs e até mesmo roupas comuns, dançavam no ritmo da bandinha da
cidade. Neste dia, as vendas do bar foram modestas, o que preocupou o Jajá,
pelo possível prejuízo do cunhado. Mas o cara era bom no negócio. Noite
seguinte, o Valter rodava o salão com seu bom papeado. Sentava nas mesas e
pedia logo aos garçons, uma garrafa de whisky e um champanhe para a madame.
Brindavam e ele dizia, se sobrar podem levar para casa. Constrangidos,
os associados não reclamavam. E assim
foi até a terça feira gorda. Na quarta-feira, fizeram o balanço da festa. O
Valter ganhou uma boa soma, que permitiu pagar a viagem de férias e sobrar
ainda uma boa grana. Agradecido presenteou seu Jajá e Dona Ceição.
O Colégio dos filhos
Já instalados em Vitória e o Roberto
estudando no Colégio Estadual. Vale um parênteses: era o melhor colégio de
Vitoria. O único que dispunha de piscina. Para se ter ideia, Vitoria só tinha
duas piscinas: a do Colégio Estadual e a do Praia tênis Clube. Vitoria tinha os
Clubes: Praia Tênis, Iate Clube e Clube Vitoria para os endinheirados e os
Clubes Saldanha da Gama e Alvares Cabral para a classe média alta. Os outros filhos, Paulo e Jacques, ainda estavam
no ensino primário, hoje ensino fundamental no Colégio Padre Anchieta, sobe os
cuidados da Diretora Dona Adelayde. Os melhores colégios de Vitoria, depois do
Estadual, eram o Salesiano e o Americano frequentado pelas classes altas e medias
altas de Vitoria. O Paulo terminou o 5º ano primário fez concurso de admissão e
entrou no Colégio Salesiano. O Jacques, no 4º ano primário, fazia cursinho de
admissão pela manhã e à tarde frequentava normalmente o curso primário. Passou e
fez grandes amigos de até hoje e ganhou um ano em sua vida profissional. Mas o
motivo desta narrativa é o seu Jajá. Ele queria que os filhos frequentassem a nata
da sociedade local. Associou-se aos Clubes Saldanha e Alvares, como demostro no
arquivo de fotos e documentos. Neste sentido ele queria que os filhos
estudassem no Colégio Salesiano, um colégio religioso, tradicional e muito
conceituado. Os Padres concediam bolsa de estudos a alunos que não tinham
condições de pagar as mensalidades de forma a inclui-los na sociedade mais
abastada. Isto realmente funcionou. Hoje tenho colegas médicos, engenheiros, advogados,
empresários que tiveram esta oportunidade. Seu Jajá até tentou as bolsas, mas
os padres não eram bobos. Mas ele não desistiu. Como o Colégio tinha uma cantina
que funcionava em dois turmas (manhã e tarde) ele pediu para ser o fornecedor exclusivo
do Colégio. Com isto ele bancava as mensalidades dos filhos e ainda sobrava uma
graninha. Velho esperto.
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